domingo, 4 de julho de 2010

Te perdoo seleção, por te trair!

Isentando-me da pesada culpa na pulada de cerca futebolística, já te digo, querida seleção, neste momento tão crucial de Copa do Mundo, que te perdoo por te trair. Confesso que outras paixões surgiram neste Mundial -- e fizeram estragos com suas formas de sedução – mas o fascínio aos poucos dissipou-se pelos gramados e a fidelidade verde-amarela ressurgiu, quase intacta. Com sua honra destratada pelas mesas de botecos, já que esteve longe de mostrar um futebol de brilhar os olhos de orgulho, deu motivos de sobra para ser traída; e foi. Aceito agora, os ‘Mil Perdões’, cândidos como na canção de Chico Buarque, para retomarmos nossa caminhada.

Revelo que nossa relação começou a ser abalada tão logo decidiu desprezar o talento de Ganso e seu futebol de cabeça erguida, que lhe faria tão bem como outros craques já lhe fizeram. No entanto, o garoto foi deixado para trás, preterido por um aglomerado de volantes. Volante tal como seu técnico Dunga, pobre coitado. O único capitão de todas as seleções do mundo a erguer a tão cobiçada taça, em 1994, cuspindo palavrões. A culpa não é dele, por isso te perdoo. Dunga é apenas traumatizado e ressentido pela execrada campanha de 90, que levou seu nome. Infelizmente, ele entendeu de forma inversa a máxima da geração Flower Power e acabou adotando como lei inabalável o lema: “Não faça amor, faça Guerra!”.

E me diga, minha cara, como não se encantar com o talento da Espanha, com o qual a partida parece se tornar uma eterna roda de bobinho com os adversários? Uma bola tão saborosamente tocada que, por vezes, os jogadores até parecem se esquecer que precisam fazer gols. Acabei seduzido, admito, e não somente pela Espanha. Até mesmo sua principal rival, que lhe deixa contorcida de ódio, mereceu uma bela cantada ao pé-de-ouvido. Na verdade, gracejos não faltaram para a Argentina, seu plantel de atacantes e, sobretudo, à classe de Maradona com suas matadas de bola na beirada do campo. Por mais vil que seja tal traição, fez por merecer e te perdoo.

Isso ainda sem precisar me alongar muito sobre o ‘flerte’ tido com a Alemanha. Suas perigosas curvas, cirurgicamente traçadas em cada gol. Você pode não acreditar, mas até mesmo a despeitada seleção do Paraguai mereceu sua pulada de cerca. Não pelo futebol em si, mas pelo charme adquirido devido à musa paraguaia Larissa Riquelme, que embasbacou o mundo com seu celular estrategicamente acomodado no decote. A moça ainda promete tirar o que lhe resta de roupa, em praça pública, caso o Paraguai avance às semifinais. Força Paraguai! Como não vibrar?

Em suma, caríssima e amada seleção, torci por sua derrocada e murmurei nomes de suas rivais em delírios e sonhos. Lancei pragas e maldições sobre seu futebol amarrado e sem fantasia. Cheguei a segurar na garganta o grito de gol ..., mas juro que te perdôo, nesta reta final, onde por vezes costuma demonstrar sua face mais bela. Vestirei suas cores, cantarei seu hino e torcerei afoito. Só não me venha pedir para revestir a frente do carro com a bandeira nacional. Aí também já é demais!

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