sexta-feira, 25 de junho de 2010

A gloriosa arte de nunca acertar nos bolões


A primeira regra -- caros torcedores que, assim como eu, são inebriados pelos bolões que assolam o país de quatro em quatro anos -- é simples e direta. Isto por que existe somente uma regra no diminuto ‘Código de Hamurabi’ dos bolões: ‘Não apostarás contra o Brasil!’ Nunca te invoque o papel de torcer contra a seleção, mesmo que seja esta aí de Dunga e mesmo ainda se fosse a malfadada seleção de Lazaroni. Jamais! ‘Jamé!’ (diria o torcedor francês, sem suspeitar da derrocada da Bastilha de sua seleção). Por mais que a ideia de faturar o bolão sozinho seja cobiçável e interessante.

Partindo desta premissa, dá-se início às confabulações ludopédicas, quando a massa cinzenta começa realmente a fermentar. Terça-feira da estreia do Brasil na Copa. Rival: Coréia do Norte? Os ânimos na folhinha de apostas estão exaltados. A última goleada do Brasil em um jogo inicial foi na longínqua Copa de 1970, 4 a 1 sobre a Tchecoslováquia. Em 2006, magro 1 a 0 sobre Croácia. Mas convenhamos, Coréia do Norte, 105ª colocada da FIFA, cuja única participação em mundiais foi em 1966. Uma nova goleada se assanha! Mas qual? Quantos Gols? A maior goleada em estreias foi o 5 a 0 sobre o México, em 1954. Estabeleceríamos novo recorde?

Conhecimentos diversos começam a ser costurados. A Lógica aplicada com a Patafísica (ciência das leis que regulam as exceções), a Química Quântica, o complexo edipiano de Dunga, a Astrologia, a Numerologia, a ‘Palpitaria’, a filosofia de boteco, a apocalíptica Era de Aquários, o movimento dos astros, o movimento ‘Emo’, o bebê indiano que fuma 40 cigarros, a revolta da ‘família Restart’, craques que hoje preferem orar a mandar um pagodão nervoso... em qual placar estaria apostando o matemático Oswald de Souza? -- divago. Todo essa sopa cósmica aglomera-se na ponta da caneta que, confiante, crava 3 a 0 Brasil. Nada demais, nem uma goleada ufanista nem um resultado absurdo. Batata! – diria o grande Nelson.

Mas a esperança de uma quarta-feira abastada esvai-se poucos minutos depois da bola passear em campo. Kaká se arrasta, Luís Fabiano fica escondido atrás de uma barreira de norte-coreanos com o mesmo nome. Dois golzinhos e ainda por cima um tento convertido pelos rivais. Como pode? Fórmulas e arranjos descarga abaixo.

Pelo apresentado, era pesaroso calcular os percalços por que passaria os comandados de Dunga frente ao bando de Holyfields raivosos da Costa do Marfim. Robinho será triturado na primeira pedalada! Esse jogo só pode ser 1 a 1, pensava. Brasil 1 a 0, no máximo. Arrisco os dois resultados, buscando angariar fundos. Mas eis que, da ociosidade fez-se a leveza. Kaká, mesmo com seu púbis de vidro latejante, forneceu dois passes de gol como aperitivo e Luís Fabiano, flanando pela grama, o gol mais belo da Copa até o momento, com cinco toques na bola: mão esquerda, pé direito – chapéu – pé direito – novo chapéu, olé! – braço direito, pé esquerdo. Gol! Golaço e danem-se as chances no bolão. Está aí mais uma obra que será incansavelmente repetida.

Caneta novamente em punho e Portugal pela frente. A goleada por 7 a 0 sobre a Coréia do Norte não assusta. Mesmo sem Kaká e Elano, Júlio Baptista e Daniel Alves vão comer a grama. Melhor ainda se Ramires tivesse sua chance de jogar 90 minutos. Pode anotar aí meu chapa, até mesmo aqui na beirada desse jornal: Brasil 3 x 1 Portugal. É Batata!